A primeira estação passou e Meredite ainda não havia sequer idealizado o amuleto. Estava chateada, com raiva, do tal príncipe e também de si mesma. Mas não iria deixar de confeccionar seus doces e honrar seus compromissos. Não somente não tinha criado a jóia para ele, como não tinha ânimo para dar vida à peças para oferecer para outras pessoas que ela bem sabia que mereciam.
Porém, alguém chegou no início da segunda para trazer alento aos dias da artesã. Metade de um dia já havia se passado quando bateram à porta da casa dela. Ela atendeu prontamente. Era Leonardo. Nossa! Como ela o abraçou! Não ficava tão feliz a muitos anos.
Os dias seguintes pareciam ter sido feitos para o que realmente aconteceu. Passeavam e contavam praticamente tudo que haviam vivido durante aqueles tempos de afastamento. Descobriu o quanto Leonardo vinha se destacando não somente por suas pinturas como por alguns de seus pensamentos e invenções. No entanto, uma coisa ela lamentava um pouco... Ele ainda parecia querer manter distância de nobres, riquezas e afins. O que a desanimava de relatar o capítulo que tanto a deixava aflita. Enfim decidiu que devia colocá-lo a par do ocorrido. Com certeza teria sua amizade como fortaleza. Assim o fez. E como resultado, teve como primeira reação dele exatamente o que esperava, desespero, depois, ele se calou e quando voltou a falar, seu semblante e modos nada tinham de serenos, embora sua voz estivesse em um volume muito abaixo do normal:
- Aconselho que não vá.
- Não foi um pedido. Foi uma convocação real, centenas de pessoas da vila viram. E eu não posso evaporar. Vou mesmo que seja para dizer que não criarei o amuleto.
- Você sabe o que penso sobre castelos. Fui convidado para ir à festas e homenagens em vários nesses últimos anos. E não fui à nenhuma.
- Conheço seu pensamento, mas não os seus motivos. Lembrei de você todos esses anos, aceitando como verdade um sentimento que talvez, tenha brotado só em mim. Mas me orgulho dessa flor assim mesmo... Eu te amo. E adoro te amar. E quem poderá dizer se esse será nosso último encontro? Por isso estou me confessando de maneira inesperada e breve.
- Sinto muito por você se sentir tão pressionada pelo tempo e pelo mundo a fazer uma declaração que você dá a entender que preferia guardar para si mesma por toda eternidade. Você parece um condenado à forca dando seu último grito.
- Estou soando realmente tão fria?
- Apenas um pouco diferente de quando nos conhecemos. Também tenho algo a te dizer... Mas com o estado de espírito em que se encontra, acredito que não é a hora adequada. Esqueça meu conselho. Vá ao castelo. Não lamente, não tenha receios. O Universo a assistirá.
E segurando a mão dela, completou:
- Vamos sair.
Chegaram em silêncio até uma vasta área desabitada, coberta de flores do campo. Sentaram-se em meio àquele Éden, deixando que a vegetação os superasse em altura, de forma que ninguém poderia avistá-los.
- Não aprecio castelos porque eles não gostam de quem eu amo. - ele falou a princípio.
- Léo, as coisas que eu te disse... Eu não quis te fazer sentir a obrigação de me contar... Eu...
Ele a interrompeu gentilmente:
- Eu quero revelar. Pensei em fazer através das cartas. Mas escolhi estar por perto. Sinto que vou precisar de você. Essas lembranças estão em um baú perigoso demais para ser aberto na solidão.
Janeiro de 2021
Ana Luiza Lettiere Corrêa (Ana Lettiere)
Com Patrícia Lettiere ( http://pintandonopedaco.blogspot.com.br ), Paulo Renato Lettiere Corrêa ( http://osabordamente.blogspot.com.br ) e todos os meus inspiradores.
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