Mas o fim existia. E chegou. O fim do festival. Porém, antes que mesmo este chegasse, todos eles voltaram a se encontrar, todos os dias, em horários alternados para atender à necessidade de trabalho de cada um. Meredite, além de aproveitar a época para renovar sua carga cultural, começou a produzir seus doces, pagando um pequeno aluguel pelo uso que fazia da cozinha da pousada onde estava instalada. Tinha comprado uma cesta maior e percorria alternadamente as ruas da vila. Seus quitutes eram gostosos e bonitos o que garantia o retorno dos fregueses. A amizade com Tamara prosperou. Foi assim... No nono dia de sua estadia na vila, Meredite havia acabado de confeccionar o amuleto que decidira fazer para Tamara. Era uma pulseira de macramê em linha azul e uma meiga pedra bruta mas, perfeitamente amarela, clara, castroada. Saiu às pressas de seus aposentos, e, logo reencontrou o rumo da tenda onde conheceu sua amiga. Porém, lá chegando não a encontrou. No entanto, como para calar sua preocupação, resolveu averiguar algo que já lhe havia intrigado dias antes e que agora, principalmente diante daquela circunstância poderia ser a explicação coerente. Pegou na bolsa que sempre carregava consigo, o papel que Tamara lhe entregou em sua chegada à vila. Foi com o olhar direto ao último endereço mencionado e novamente reparou que era o único da lista que não disponibilizava nome do estabelecimento, nem do proprietário. Dias atrás, quando recebera este papel vira esse endereço com alguma desconfiança justamente pela falta de detalhes. Mas agora tudo fazia sentido, tudo se ajustava e seu coração, por já ter como certeza o que sua mente ditava ainda somente como possibilidade, sabia o que precisava fazer. Começou a caminhar e em uma hora chegou ao destino. A casa tinha um exterior de proporções medianas e fazia parte do conjunto de uma rua relativamente movimentada. E mesmo vista de uma forma tão superficial já era possível declará-la uma morada de amor. Meredite criou coragem, se aproximou e fez a singela aldrava da residência encontrar a porta por três vezes. Ouviu certo alegre murmurinho vir do interior e passos que se aproximaram.
Logo a porta estava aberta e Tamara, tendo no semblante um misto de surpresa e empolgação, não somente convidou Meredite para adentrar o local, como, ante a hesitação educada desta, a segurou pelo braço e a conduziu até a sala, fechando a porta em seguida. Tamara então chamou seus dois irmãos menores para se fazerem presentes diante da visita. Um menino de oito anos e uma menina de cinco anos. Tamara explicou que morava sozinha com os pequenos e que quando a humilde preceptora deles não podia comparecer à sua casa e eles não estavam em boas condições para fazer companhia a ela na tenda, ela preferia perder um dia de vendas do que colocar a saúde deles em risco. Aquele dia estava sendo assim. A menorzinha havia acordado meio indisposta. Após trocarem alguns conselhos sobre esse tema, a conversa se ampliou, foi desde amenidades até história antiga. Também se divertiram participando das atividades infantis, até que Meredite se desculpou por já precisar se retirar, agradeceu pela hospitalidade e ofereceu a pulseira que havia confeccionado especialmente para a amiga. Esta recebeu o agrado e imediatamente colocou o adorno no pulso prometendo jamais retirá-lo.
Meredite acompanhou o gesto de Tamara dizendo:
- É para que o céu sempre ofereça um Sol para seus caminhos!
E acrescentou:
- Em breve trarei amuletos para seus irmãos também. Agora que conheço um pouco sobre cada um, já tenho ideia de como fazer.
Abraçou todos e partiu. Depois desse dia, Tamara e seus irmãos também se tornaram amigos do quarteto de artistas. E, de fato, alguns dias depois de ter visitado a amiga pela primeira vez em sua casa, a forasteira presenteou cada uma das crianças com uma pulseira.
Janeiro de 2021
Ana Luiza Lettiere Corrêa (Ana Lettiere)
Com Patrícia Lettiere ( http://pintandonopedaco.blogspot.com.br ), Paulo Lettiere (Paulo Renato Lettiere Corrêa ( http://osabordamente.blogspot.com.br ) e todos os meus inspiradores.
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