terça-feira, 25 de maio de 2010

Beethoven - Mestre da Música

   


     Ludwig Van Beethoven (Bonn, 16 de Dezembro de 1770 - Viena, 26 de Março de 1827) - Esse sagitariano notável viveu em uma época de transformação e como sempre acontece, é a arte quem melhor retrata e eterniza a profundidade dos momentos decisivos da História. O talento deste grande compositor erudito superou todas as barreiras, pois mesmo com poucos estudos formais e aprofundados, conseguiu se destacar entre os nobres nomes da música. Muitos desconhecem que Beethoven também estudou Literatura, o que muito o aproximou dos pensamentos da Revolução Francesa. Mesmo sendo um artista de genialidade única, Beethoven tinha suas tristezas, dúvidas e revoltas. Era admirado por vários artistas de sua época, entre eles Mozart, que certa vez disse “Não o percam de vista, um dia há-de dar que falar” e Goethe que o achava “indomável”.
     Uma das passagens mais comoventes da biografia desse artista, é o texto a seguir, o "Testamento de Heilingenstadt" no qual desabafa a maneira como via e era visto pela sociedade da época e sua dor diante da perda de audição. Como todo gênio, Ludwig era perfeccionista, queria oferecer o melhor, ser querido e ao mesmo tempo demonstrar força, por isso sofria pelo momento difícil pelo qual estava passando:
"Ó homens que me tendes em conta de rancoroso, insociável e misantropo, como vos enganais. Não conheceis as secretas razões que me forçam a parecer deste modo. Meu coração e meu ânimo sentiam-se desde a infância inclinados para o terno sentimento de carinho e sempre estive disposto a realizar generosas acções; porém considerai que, de seis anos a esta parte, vivo sujeito a triste enfermidade, agravada pela ignorância dos médicos. Iludido constantemente, na esperança de uma melhora, fui forçado a enfrentar a realidade da rebeldia desse mal, cuja cura, se não for de todo impossível, durará talvez anos! Nascido com um temperamento vivo e ardente, sensível mesmo às diversões da sociedade, vi-me obrigado a isolar-me numa vida solitária. Por vezes, quis colocar-me acima de tudo, mas fui então duramente repelido, ao renovar a triste experiência da minha surdez!
Como confessar esse defeito de um sentido que devia ser, em mim, mais perfeito que nos outros, de um sentido que, em tempos atrás, foi tão perfeito como poucos homens dedicados à mesma arte possuíam! Não me era contudo possível dizer aos homens: “Falai mais alto, gritai, pois eu estou surdo”. Perdoai-me se me vedes afastar-me de vós! Minha desgraça é duplamente penosa, pois além do mais faz com que eu seja mal julgado. Para mim, já não há encanto na reunião dos homens, nem nas palestras elevadas, nem nos desabafos íntimos. Só a mais estrita necessidade me arrasta à sociedade. Devo viver como um exilado. Se me acerco de um grupo, sinto-me preso de uma pungente angústia, pelo receio que descubram meu triste estado. E assim vivi este meio ano em que passei no campo. Mas que humilhação quando ao meu lado alguém percebia o som longínquo de uma flauta e eu nada ouvia! Ou escutava o canto de um pastor e eu nada escutava!
Esses incidentes levaram-me quase ao desespero e pouco faltou para que, por minhas próprias mãos, eu pusesse fim à minha existência. Só a arte me amparou! Pareceu-me impossível deixar o mundo antes de haver produzido tudo o que eu sentia me haver sido confiado, e assim prolonguei esta vida infeliz. Paciência é só o que aspiro até que as parcas inclementes cortem o fio de minha triste vida.
Melhorarei, talvez, e talvez não! Mas terei coragem. Na minha idade, já obrigado a filosofar, não é fácil, e mais penoso ainda se torna para o artista. Meu Deus, sobre mim deita o Teu olhar! Ó homens!
Se vos cair isto um dia debaixo dos olhos, vereis que me julgaste mal! O infeliz consola-se quando encontra uma desgraça igual à sua. Tudo fiz para merecer um lugar entre os artistas e entre os homens de bem.
Peço-vos, meus irmãos (Karl e Johann) assim que eu fechar os olhos, se o professor Schimith ainda for vivo, fazer-lhe em meu nome o pedido de descrever a minha moléstia e juntai a isto que aqui escrevo para que o mundo, depois de minha morte, se reconcilie comigo. Declaro-vos ambos herdeiros de minha pequena fortuna. Reparti-a honestamente e ajudai-vos um ao outro. O que contra mim fizestes, há muito, bem sabeis, já vos perdoei. A ti, Karl, agradeço as provas que me deste ultimamente. Meu desejo é que seja a tua vida menos dura que a minha. Recomendai a vossos filhos a virtude. Só ela poderá dar a felicidade, não o dinheiro, digo-vos por experiência própria. Só a virtude me levantou de minha miséria. Só a ela e à minha arte devo não ter terminado em suicídio os meus pobres dias. Adeus e conservai-me vossa amizade.
Minha gratidão a todos os meus amigos. Sentir-me-ei feliz debaixo da terra se ainda vos puder valer.
Recebo com felicidade a morte. Se ela vier antes que realize tudo o que me concede minha capacidade artística, apesar do meu destino, virá cedo demais e eu a desejaria mais tarde. Entretanto, sentir-me-ei contente pois ela me libertará de um tormento sem fim. Venha quando quiser, e eu corajosamente a enfrentarei.
Adeus e não vos esqueçais inteiramente de mim na eternidade. Bem o mereço de vós, pois muitas vezes, em vida, preocupei-me convosco, procurando dar-vos a felicidade.
Sede felizes!
Heilingenstadt, 6 de Outubro de 1802.
Ludwig Van Beethoven."

Pelo visto a arte não somente o amparou mas o elevou à glória, preencheu sua alma com garra e luz, pois mesmo com essa sensação ruim ameaçando dominá-lo, esse artista admirador e defensor da liberdade não deixou que o avanço da surdez o aprisionasse. Compôs nove sinfonias, cinco concertos para piano, trinta e duas sonatas para piano e diversas outras obras. Entre suas sinfonias destaca-se principalmente a última, a Nona Sinfonia, a primeira sinfonia do mundo a apresentar um coral. Uma homenagem de Beethoven à união de música e poesia, é a arte dando exemplo de fraternidade.

*Ode à Alegria (Hino à Alegria), composto em 1823 por Beethoven inspirado pelo poema Ode à Alegria de Friedrich Von Schiller. É cantada por um coral no quarto movimento da Nona Sinfonia, e é conhecida também como Hino da União Européia, sendo executada nas cerimônias oficiais dos países que a integram. Obs: É importante lembrar que o Hino da União Européia não substitui os hinos próprios de cada nação.
No final da novela global "Viver a Vida" podemos assistir a apresentação do Maestro João Carlos Martins regendo coro e orquestra em Ode à Alegria. Considero esta uma das execuções mais emocionantes dos últimos tempos, inclusive pela história de vida do maestro, repleta de superação e talento. Tenho certeza de que Beethoven em pessoa está orgulhoso e infinitamente feliz de ver sua arte tão bem representada!!!... Por infelicidade, ultimamente não tenho encontrado no You Tube esse vídeo na íntegra para compartilhá-lo com os visitantes do Entre Livros e História... Mas aproveito para postar parte de "Io e Beethoven", filme italiano onde Beethoven é auxiliado pelas mímicas de sua amiga Anna Holtz, e ele, regendo de maneira brilhante, supera a surdez! Simplesmente maravilhoso! Um belo sinal de que conseguiu viver e deixar seu recado para a humanidade! Todas as obras de Beethoven revelam muito mais do que se imagina, ele é um Mestre que ensina de maneira completa e ao mesmo tempo sutil, suas notas eternas tem forma e perfume, que uma vez reconhecidas jamais poderão ser abandonadas ao esquecimento!

Letra de Ode à Alegria (Tradução da original)

Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais agradável
E cheio de alegria!
Alegria, mais belo fulgor divino,
Filha de Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Teus encantos unem novamente
O que o rigor da moda separou.
Todos os homens se irmanam
Onde pairar teu vôo suave.
A quem a boa sorte tenha favorecido
De ser amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma doce companheira
Rejubile-se conosco!
Sim, também aquele que apenas uma alma,
possa chamar de sua sobre a Terra.
Mas quem nunca o tenha podido
Livre de seu pranto esta Aliança!
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos dá beijos e as vinhas
Um amigo provado até a morte;
A volúpia foi concedida ao verme
E o Querubim está diante de Deus!
Alegres, como voam seus sóis
Através da esplêndida abóboda celeste
Sigam irmãos sua rota
Gozosos como o herói para a vitória.
Abracem-se milhões de seres!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos! Sobre a abóboda estrelada
Deve morar o Pai Amado.
Vos prosternais, Multidões?
Mundo, pressentes ao Criador?
Buscais além da abóboda estrelada!
Sobre as estrelas Ele deve morar.



Conheça um pouco mais sobre o mestre, deixando que as palavras do próprio iluminem seu coração:

* Não existe verdadeira inteligência sem bondade.
* Tenho paciência e penso: todo o mal traz consigo algum bem.
* A música é maior aparição do que toda a sabedoria e filosofia.
* Milhares de pessoas cultivam a música; poucas porém têm a revelação dessa grande arte.
* A música é capaz de reproduzir, em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria.
* Ainda não se levantaram as barreiras que digam ao génio: - daqui não passarás!
* A verdadeira amizade pode basear-se somente na união de modos de ser semelhantes.
* Não há nada de mais belo do que distribuir a felicidade por muitas pessoas.
* Não há nada de tão belo como aproximarmo-nos da Divindade e espalhar os seus raios pela raça humana.
* Fazer todo bem que se possa, amar sobretudo a liberdade e, mesmo que seja por um trono, jamais renegar a verdade.
* Um grande poeta é a jóia preciosa de uma nação.
* A música deve brotar fogo do coração do homem, e lágrimas dos olhos da mulher.
* Ninguém devia barganhar com um artista.
* A alma sensível é como harpa que ressoa com um simples sopro.
* Para parecer alguma coisa é preciso ser alguma coisa.
* Aplaudí, amigos, a comédia já acabou. Frase que Beethoven provavelmente disse antes de morrer.
* O que está em meu coração precisa sair à superfície. Por isso preciso compor.
* "Príncipe, o que vós sois, o sois por acaso e nascimento; o que sou, sou através de mim. Príncipes houve e ainda haverá aos milhares; Beethoven, só há um."

Fontes de informação:
http://www.frasesfamosas.com.br/frases-de/beethoven

http://pensador.uol.com.br/beethoven

http://www.ditados.com.br/autor.asp?autor=Ludwig%20van%20Beethoven

http://www.dw.com/pt/beethoven-entre-mito-e-homem-o-grande-mal-entendido/a-3613283

https://pt.wikipedia.org/wiki/Testamento_de_Heilingenstadt

Foto: https://pt.wikipedia.org

Vídeo: https://www.youtube.com

Ana Lettiere

4 comentários:

  1. Olá!
    quando puder, passa lá e pega o seu regalo!
    Um abraço,
    Luciana

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  2. Olá!Muito obrigada pela visita!Adorei o presente,fiquei muito honrada com sua atenção e gentileza!Seu Blog é maravilhoso,ótimo conteúdo,parabéns!Irei lhe visitar novamente e deixar algumas palavras em breve!
    Volte a este espaço da arte sempre que desejar,é muito bem vinda!Felicidade,luz e sucesso sempre para você!
    Abraços!!!

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  3. Oi minha amiga sonhadora.
    O clássico, eterno clássico!
    Quem ou o quê, teria inspirado estes homens na música?
    Grande abraço.
    Bjs em teu coração.
    Nadilce Beatriz (Nadi)

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  4. Nadi!Sua presença é paz e suas palavras são estrelas,luzes imortais!
    É como nós sabemos,amiga,os artistas em sua eterna genialidade trazem as maiores dádivas de todos os tempos para os dias atuais,para o nosso cotidiano!
    E no caso de Beethoven,sou suspeita para falar ou escrever porque sou uma superfã da vida e obra dele,assim como de Mozart.
    São notas que nos revelam todos os milagres do Cosmos e suas dimensões e invocam nosso Universo pessoal nos irmanando,como um todo,fraternalmente!
    Desejo muita alegria,ideais e realizações sempre para você e sua família!
    Beijos!!!

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