sábado, 31 de dezembro de 2011

I - Iluminismo - Inspiração para o Neoclassicismo

A arte além de bela é forte. Ela evolui através dos séculos, atribuindo personalidade própria a cada época. Graças à arte o pensamento não “congela” e por sua vez o mundo também não. A corrente de pensamentos que agora vou apresentar foi uma das mais poderosas e até mesmo radicais da história, pois se trata de uma energia que tocou primeiramente as artes e através delas transformou a sociedade, ninguém pôde ficar indiferente diante dessa força chamada Iluminismo. Este movimento surgiu na Inglaterra em 1680 e exerceu sua plena atividade nos séculos XVII e XVIII. Existem os que defendem que o Iluminismo foi o auge de um pensamento que vinha se aprimorando desde o Renascimento (concordo com esta visão, já que existem inúmeras semelhanças entre os ideais iluministas e renascentistas, porém no primeiro, a necessidade de abandonar definitivamente o antigo regime - monarquia e poder da igreja-se manifestava de maneira mais agressiva). Foi na França que o movimento melhor floresceu, afinal, para um povo a tempos submetido às trevas do absolutismo, nada melhor e mais confortante do que um pouco de luz. Sua característica predominante era a crítica ao absolutismo e à igreja católica, pois estas eram as instituições que mais limitavam seu direito à liberdade, fosse ela de expressão, comércio, economia ou palavra. Pregava o Humanismo, resumindo, defendia o antropocentrismo (valorização da humanidade, o homem é o centro das atenções), hedonismo (a importância do ser e não do ter), racionalismo (uso do raciocínio), otimismo (acreditar em desfechos favoráveis) e individualismo (oposição à qualquer forma de autoridade ou controle). Podemos facilmente identificar esses valores nas obras e nas frases iluministas. E como tudo começa através do pensamento... Vou entrelaçar as vidas de alguns desses pensadores, nobres mestres, revelando algumas das alianças que eternizaram este período da História com sua sabedoria. E então deixarei que suas idéias falem por eles. São palavras tão fortes e atemporais, que se prestarmos atenção veremos como servem também para os dias atuais.

*John Locke - (Wringtown, 29 de Agosto de 1632 - Harlow, 28 de Outubro de 1704) Filósofo inglês.



Com seu pensamento empirista (que defende que a pessoa nasce sem qualquer sabedoria e durante sua vida vai aprendendo com os erros e acertos), foi um dos maiores ideólogos do Iluminismo. Muitos de seus ideais contribuiram para formar a base dos direitos humanos como são defendidos até hoje.
"Uma coisa é demonstrar a um homem que ele está errado, outra é colocá-lo de posse da verdade."
"Não se revolta um povo inteiro a não ser que a opressão seja geral."
"A leitura fornece conhecimento à mente. O pensamento incorpora o que lemos."
"As ações dos seres humanos são as melhores intérpretes de seus pensamentos."
"As novas opiniões são sempre suspeitas e geralmente opostas, por nenhum outro motivo além do fato de ainda não serem comuns."

*Bento de Espinoza (Benedito Espinoza ou Baruch de Spinoza) - 24 de Novembro de 1632, Amsterdã, Países Baixos - 21 de Fevereiro de 1677, Haia, Países Baixos.



Nasceu em uma família judaica portuguesa que chegou a fugir da Inquisição em Portugal. Estudou muitos textos religiosos e também obras dos grandes nomes da filosofia, Platão, Aristóteles, Sócrates... enfim uma vida marcada por instrução e sofrimento e foi assim que ele escolheu o seu caminho. Entre os ideais de seus escritos se destacam a valorização do pensamento lógico e ética. Em 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdã o puniu com o Chérem, castigo equivalente à excomunhão, pelos seus ensinamentos, escritos em que ele defendia que Deus é parte da natureza e do Universo, enquanto a Bíblia não pede leitura racional e não exprime a verdade. Esse comentário foi feito por Renan em 1882 em Haia, inspirado pelo monumento feito em homenagem à Espinosa: "Maldição sobre o passante que insultar essa suave cabeça pensativa. Será punido como todas as almas vulgares são punidas - pela sua própria vulgaridade e pela incapacidade de conceber o que é divino. Este homem, do seu pedestal de granito, apontará a todos o caminho da bem-aventurança por ele encontrado; e por todos os tempos o homem culto que por aqui passar dirá em seu coração: Foi quem teve a mais profunda visão de Deus."

"Não chore, não se revolte. Compreenda."
"A felicidade é a compreensão lógica do mundo e da vida."
"Quem vive dirigido pela Razão, se esforça, tanto quanto pode, por compensar pelo Amor e pela Generosidade, o Ódio e o Desprezo que tem outrem por ele."

*Montesquieu (Bordéus, 18 de Janeiro de 1689 - Paris, 10 de Fevereiro de 1755)



Defendia a divisão do poder em: legislativo, executivo e judiciário. Filósofo, político e escritor francês. Inspirado pelas obras de Jonh Locke escreveu "O Espírito das Leis", um de seus mais famosos trabalhos. Na época seu escrito foi proibido em diversos ambientes intelectuais, incluindo a Sorbonne, além de ser listado no Index. Por tratar sobre este assunto, podemos observar que quase todos os filósofos iluministas, tiveram seus livros condenados ao Index, isso mostra o quanto o objetivo dos pensadores estava sendo alcançado, estavam iniciando uma revolução, causando reações de urgência em poderes que até aquele momento na História, tinham se considerado inalcansáveis.

Frases:

"A injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todos."
"O amor da democracia é pela igualdade."
"Raramente começa a corrupção pelo povo."

*Voltaire (François-Marie Arouet) Paris, 21 de Novembro de 1694 - Paris, 30 de Maio de 1778. Filósofo iluminista, escritor e ensaísta.



Podemos dizer que no reino das letras, Voltaire explorou e conquistou quase todos os estilos literários. Lutava pela liberdade de pensamento e contra a intolerância religiosa. Voltaire inspirou toda uma época, por seus ideais conquistou a admiração do futuro, teve a alegria de saber que foi compreendido, entre tantos presentes e homenagens que sua memória já recebeu, considero um dos mais notáveis e emocionantes, a obra do escultor neoclássico Jean Antoine Houdon, denominada "O Retrato de Voltaire".

“Filósofo, amante da sabedoria, ou seja, da verdade.”
“Os filósofos sempre foram perseguidos por fanáticos. Será possível, no entanto, que os homens de letras se imiscuam também e eles próprios aticem contra os seus confrades as armas com que todos são trespassados, uns após outros?”
Frase de Voltaire a um colega de quem ele discordava das opiniões: “Senhor, sou contra tudo o que vossa senhoria disse, mas defenderei até a morte o seu direito de dize-lo.”
"Meus amigos, uma falsa ciência gera ateus, mas a verdadeira ciência leva o homens a se curvar diante da divindade..."

* David Hume (Edimburgo, 7 de Maio de 1711 - Edimburgo, 25 de Agosto de 1776)
Historiador e filósofo iluminista. Favorável radicalmente ao livre arbítrio e ao ceticismo.



Chegou à faculdade aos 11 anos e saiu aos 15 para escolher os rumos do próprio estudo, contrariando sua família que desejava que ele cursasse Direito, ele escolheu as letras, a filosofia. Uma de suas mais polêmicas obras é "História", pela qual sofreu enfático ataque de Daniel MacQueen, que escreveu "Cartas sobre a História de Mr.Hume", aonde acusa Hume de zombar das religiões em seu escrito. O livro de Hume foi então repudiado e o desespero do autor foi tão grande que sua vontade era fugir para a França e mudar de nome, mas não o fez. Logo após este episódio todos os livros de Hume foram condenados pela igreja e listados no Index. Em 1765 David foi para a Irlanda e depois viveu certo tempo em Paris, cidade que muito apreciou em virtude da sua boa acolhida pelo povo. A mais notável influência de Hume parece ter sido sobre seu amigo Adam Smith, embora não se possa precisar quem influenciou quem com maior poder, sabe-se que seus ideais tem valores bastante semelhantes. E também Kant, que confessa que Hume foi fundamental na sua formação filosófica.

Frases:

"Seja um filósofo, mas, no meio de toda sua filosofia, não deixe de ser um homem."
"Que privilégio peculiar tem esta pequena agitação do cérebro que chamamos pensamento."
"A beleza das coisas existe no espírito de quem as contempla."
"O coração do homem existe para reconciliar as contradições mais notórias."

*Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de Junho de 1712 - Ermenonville, 2 de Julho de 1778). Teórico político, escritor, compositor musical autodidata e filósofo. Autor das óperas "As Musas Galantes" e "O Adivinho da Aldeia".



Rousseau discordava de algumas idéias de seus colegas, filósofos iluministas, por exemplo, ele não acreditava excessivamente na ciência. Para ele o Iluminismo era o momento de lutar sim por um estado democrático e com igualdade para todos, mas achava que também devia-se buscar a harmonia e e compreensão da natureza e amor. Conheceu Condillac e Diderot e chegou a colaborar na Enciclopédia que este estava organizando juntamente com outros filósofos e estudiosos da época.

No entanto houveram alguns conflitos entre eles, pois enquanto Voltaire e Diderot defendiam a supervalorização da cultura formal, rigor na educação e formação erudita, ele desejava o simples, o natural. Tinha uma visão própria sobre o método de ensino: A interferência do mestre é mínima no desenvolvimento próprio do jovem, em especial até os doze anos, quando ele ainda não pode contar com a razão. Rousseau idealizou a chamada educação negativa, na qual não se ensina a virtude ou a verdade, mas a preservar o coração do vício e o espírito do erro. Educado assim, quando adulto, o cidadão saberá se defender sozinho desses e de outros perigos.

Além disso Rousseau rejeitava o puro e sistemático racionalismo, acreditava na existência de Deus e que ele se fazia presente em cada ser humano e nas manifestações da natureza. Mas Rousseau não era inimigo da civilização, agradecia os avanços da boa ciência, apenas desejava ver a sociedade novamente irmanada com o meio ambiente e consequentemente mais feliz. E aí está uma das influências do Iluminismo na arte neoclássica, a busca pela natureza, a fuga dos grandes centros, o artista desejar ar, liberdade para viver, sonhar e criar. A situação ficou tão insustentável que Voltaire chegou ao extremo de assumir um espírito de rivalidade aberta com ele. Em 1762 foi perseguido pela igreja e por interesses políticos que julgavam suas obras imorais e anti clericais e foi obrigado e exilar-se na Suíça. Em 1765 foi para a Inglaterra a convite do também filósofo iluminista David Hume. Veja a carta de agradecimento que Rousseau enviou a Hume:

"Para Mr. David Hume (Tradução de Miguel Duclos)
Strasburgo, 04 de Dezembro de 1765

Vossa bondade, senhor, me atingiu de tal forma que me honrou. A resposta mais digna que posso dar a esta oferta é a de aceitar, e eu a aceito. Partirei dentro de cinco ou seis dias para receber seu abraço. Este é o conselho de milorde Marechal, meu protetor, meu amigo, meu pai; o mesmo de Mme. de Boufflers, cuja benevolência iluminada me guia e ao mesmo tempo me consola. Enfim, digo ainda, meu coração se agrada em muito dever ao mais ilustre dos meus contemporâneos, cuja bondade ultrapassa a glória. Eu suspiro por um retiro solitário e livre onde possa terminar os meus dias em paz. Se vossas preocupações bondosas se dirigiram a mim, gozarei ao mesmo tempo do único bem que meu coração almeja e do prazer recebê-lo de vós. Eu lhe saúdo, senhor, de todo meu coração."

Infelizmente, essa amizade não foi muito longe, pois algum tempo depois de aceitar a ajuda de Hume, Rousseau desconfiou de que o gesto de David fazia parte de uma armadilha e fugiu para a França, logo acusando Hume de fingir generosidade com o intuito de destruir sua reputação.

“As injúrias são as razões dos que não tem razão.”
“Nossa curiosidade é proporcional a nossa cultura.”
“O homem nasceu livre, e em todos os lugares ele está acorrentado.”
"As leis são sempre úteis aos que têm posses e nocivas aos que nada tem."
"Quanto mais do mundo vi, menos pude moldar-me à sua maneira."
"Se é a razão que faz o homem, é o sentimento que o conduz."
"A espécie de felicidade de que preciso não é fazer o que quero, mas não fazer o que não quero."
"A falsidade é suscetível de uma infinidade de combinações; mas a verdade só tem uma maneira de ser."
"Caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, e ter por fim da caminhada um objetivo agradável: eis, de todas as maneiras de viver, aquela que mais me agrada."
"A alma resiste muito mais facilmente às mais vivas dores do que à tristeza prolongada."
"De todos os animais, o homem é aquele a quem mais custa viver em rebanho."

*Denis Diderot (Langres, 5 de Outubro de 1713 - Paris, 31 de Julho de 1784).
Escritor e filósofo.



Diderot via na ciência um infinito portal para uma realidade repleta de respostas, faltava somente à humanidade se ligar a essa fonte de revelações. Junto com Jean Le Rod d'Alembert (1717/1783) reuniu um grupo de pensadores para fazer uma Enciclopédia de pensamentos filosóficos. Sofreu intensos ataques por parte da igreja e políticos da época, sendo vítima de forte censura e condenação pelo papa. Alguns de seus principais colaboradores foram Montesquieu, Voltaire, Condillac, Rousseau.

Frases:

“Em qualquer país em que o talento e a virtude não produzam progresso, o dinheiro será a divindade nacional.”
“Coisas das quais nunca se duvidou, jamais foram provadas.”
“Ter escravos não é nada, mas o que se torna intolerável é ter escravos chamando-lhes cidadãos.”
"Engolimos de um sorvo a mentira que nos adula e bebemos gota a gota a verdade que nos amarga."

*Étienne Bonnot de Condillac (Grenoble, 30 de Setembro de 1715 - Flux, 03 de Agosto de 1780).



Condillac se formou abade, mas a vida reservou um destino bem diferente para ele. Nunca chegou a exercer as funções eclesiásticas e além disso se reuniu aos bons, ou seja, aos "rebeldes" iluministas. Discípulo de Locke, desenvolveu o empirismo. Seus amigos mais próximos eram Rousseau e Diderot.

Frases:

"O verdadeiro órfão é aquele que não recebeu educação."

*Adam Smith - Kirkcaldy, Fife Não se sabe a data exata de seu nascimento, porém seu batismo foi em 05 de Junho de 1723 - Edimburgo, 17 de Julho de 1790. Inglês, filósofo e economista, defensor do liberalismo econômico.



Amigo de David Hume, formulou idéias que tiveram forte influência sobre a burguesia de sua época.

"A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes."
"Os livros constituem um mundo melhor dentro do mundo."
"O verdadeiro valor das coisas é o esforço e o problema de as adquirir."

*Immanuel Kant (Konigsberg, 22 de Abril de 1724 - Konigsberg, 12 de Fevereiro de 1804).



Kant nunca saiu de Konigsberg. Considerado o último grande filósofo da era moderna, dentre os seus mais interessantes pensamentos destaca-se sua teoria sobre a real menoridade humana. De acordo com Kant:

*Menoridade é a incapacidade de fazer uso do próprio entendimento.
*Sair da menoridade depende do esforço do próprio homem.
*A dificuldade em sair da menoridade se deve ao comodismo, preguiça e covardia, algumas pessoas simplesmente ficam esperando que os outros façam tudo por elas.

Kant também sintetiza de maneira brilhante o espírito do Iluminismo, veja: "O que é o Iluminismo? O Iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento. Sapere Aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! -esse é o lema do Iluminismo"

Frases:

"Age sempre de tal modo que o teu comportamento possa vir a ser princípio de uma lei universal."
"Toda reforma interior e toda mudança para melhor dependem exclusivamente da aplicação do nosso próprio esforço."
"Age de modo que consideres a humanidade tanto na tua pessoa quanto na de qualquer outro, e sempre como objetivo, nunca como simples meio."
"Belo, é tudo quanto agrada desinteressadamente."
"Podemos julgar o coração de um homem pela forma como ele trata os animais."

*Henri Benjamin Constant (Lausanne, 25 de Outubro de 1767 - Paris, 08 de Dezembro de 1830)



Francês de origem suíça, era escritor e filósofo, defensor principalmente da liberdade individual. Tinha preferência pelo ideal inglês de liberdade, um diferencial, se comparado à maioria dos iluministas à moda francesa, que admiravam a Roma antiga.

"Quando não se colocam limites aos representantes do povo, eles não são defensores da liberdade, mas candidatos à tirania."

    Era construindo uma sociedade intelectual extremamente forte que esses pensadores, iam ao encontro dos seus ideais, às vezes surgiam desentendimentos, isso ocorria devido à natureza dos filósofos que além de criarem suas obras e teorias, são espíritos sempre atentos, questionadores e críticos sobre tudo que os cerca e muitas vezes não poupam nem seus amigos de suas sinceras opiniões. Por sua vez, artista entende artista e eles se entendiam, viam neste estilo de convivência uma maneira amadurecida de evoluir.
    E, é claro, competições também existem entre os gênios, mas nas horas difíceis, em que fatores externos, tirania e corrupção ameaçavam sua classe uns apoiavam os outros. Posso defini-los usando a principal frase de “Os Três Mosqueteiros” de Alexandre Dumas: “Um por todos e todos por um”. O lema do grupo era: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Sim, o mesmo da Revolução Francesa e que também inspirou a Inconfidência Mineira. Um ideal tão brilhante que saiu do papel, dos sonhos e discursos e tocou toda a sociedade, o que era um modo de pensar adquiriu a urgência de se tornar um modo de vida.

Imagens extraídas de https://pt.wikipedia.org.
Fontes de Informação para esta postagem:
https://pt.wikipedia.org

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