A paz frutificou para todos... Para Tamara e seus irmãos, os três corações sábios e inspirados que ficaram na vila... E também para os cinco que partiram. Cinco anos se passaram. Tempos preenchidos por felicidades, melancolias, mesas fartas, bolsos vazios, aplausos e vaias. Os doces e amargos comuns à maioria das existências.
Todos persistiram em seus dons e aspirações. Tamara e sua família continuavam em sua terra, e, recentemente ela ficara noiva de um violinista, Andrea. Os quatro artistas estavam totalmente envolvidos em uma série de apresentações.
Meredite, depois de dois anos morando em seu vilarejo, ao perceber o injusto aumento dos tributos, decidiu que seguiria produzindo seus amuletos e vendendo os doces que criava, mas sem possuir residência fixa. Nascera livre, os inúmeros caminhos impregnados de aprendizado tinham um efeito extremamente atraente para ela. Seguiria a fórmula que a amparou durante sua estadia na vila que recebera o festival.
E foi dessa maneira que ela, nos três anos que se seguiram conheceu praticamente todas as vilas e recantos do reino. Assim como encantou a todos... Não apenas pela alta qualidade de seus quitutes que lhes conferia ares de maravilha, mas também pela sua natureza despojada de luxos mas extremamente virtuosa. No entanto, uma determinada atitude da parte de um ou outro cidadão mais atrevido ameaçava embaçar a sensação de plenitude que a envolvia... Tentavam adquirir um de seus amuletos através da compra. Ela se sentia realizada imensamente toda vez que via uma de suas criações fazendo parte de outras vidas. Mas ela considerava que por ver nessa sua arte algo sagrado ela oferecia as cores e pedras corretas para as pessoas certas. Não era uma questão de querer mas sim de estar em sintonia. Porém essa explicação não era aceita pelo espírito de todos.
No início do sexto ano, Meredite voltou à vila de Tamara com intenção de permanecer um bom tempo ali. Desde que haviam se despedido pela primeira vez, a artesã tinha voltado ao local quatro vezes, sempre de maneira rápida. E desde que ela resolvera sair de seu vilarejo, receber e enviar cartas para seus amigos (Coisa que acontecia com certa frequência durante o primeiro ano que sucedeu o encontro deles no festival) se tornou praticamente impossível, e tal alegria, de fato, não acontecia mais. Porém, as que ela havia recebido, de cada um deles, conservava em um pequeno baú como verdadeiros tesouros. Sempre que arranjava um tempo, voltava a lê-las e cheirá-las, pensando em como seria a atmosfera que envolvia cada um deles no momento em que estavam escrevendo para ela.
Como sempre foi muito bem recebida por sua amiga, que, além de hospedá-la em sua casa nos primeiros dias, lhe indicou uma residência próxima que se encontrava vaga para receber um novo morador.
Meses se passaram, o festival artístico aconteceu e foi perfeitamente belo. A vila continuava com o hábito de se apinhar de entusiastas da cultura nessa época do ano. Nomes conhecidos fascinavam o público e muitas novas estrelas se revelavam em todos os setores da inspiração. Entretanto, infelizmente, para Meredite, nenhum de seus preciosos amigos compareceu ao evento. Nenhuma promessa havia sido feita e por isso Meredite se sentiu errada por perceber uma frustração imensa tomando conta do seu peito. Mas não podia evitar. Parecia que toda aquela festa não tinha razão de ser sem a presença deles, principalmente sem a presença de Leonardo. Mesmo assim ela fez o que conseguiu para não deixar-se transparecer. Visitou exposições, contemplava apresentações teatrais e vendia suas guloseimas.
Janeiro de 2021
Ana Luiza Lettiere Corrêa (Ana Lettiere)
Com Patrícia Lettiere ( http://pintandonopedaco.blogspot.com.br ), Paulo Renato Lettiere Corrêa ( http://osabordamente.blogspot.com.br ) e todos os meus inspiradores.
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