quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Leonardo e Meredite (Parte 18)

     O nobre falou:

     - Como a noite segue e as estrelas bailam e se fundem para dar origem ao nosso mais radiante astro, sejamos também um caminhar de poesia e esperança. Se a entrevista com nossa artesã nos parecia obra do imprevisível, que cada palavra e despertar com que ela e os seus condecoraram nossa vila recebam um pouco de nossa gratidão. Aldeões, se seus corações forem gentis, façam o favor de me acompanhar!

     O cortejo seguiu uma ordem implícita. O príncipe à frente, conselheiros e convidados, ou seja, grande parcela da população. De uma maneira espantosa, quase todos foram confortavelmente acomodados nos macios bancos que acompanhavam as compridas mesas que estavam dispostas na área dedicada às refeições. Alguns dos presentes preferiram não sentar, mostrando maior atração pelo fabuloso espaço livre diante da orquestra. Inclusive já estavam a formar pares, esperando pelos primeiros acordes. Também haviam grupos que, tímidos, circulavam nos salões precedentes ou no jardim do palácio, mas também esses eram abundantemente guarnecidos pelas iguarias que iam e vinham em pequenas porções postadas nas bandejas habilmente transportadas por copeiros refinadamente vestidos.

     O interior da residência ganhava ares de uma calorosa, sadia e desorganizada interação. Meredite e Leonardo foram praticamente os últimos a sentar à mesa. Eles, a exemplo de muitos estavam inebriados com aquela atmosfera tão diversa da que os envolvia habitualmente, cada móvel, cada um daqueles objetos ali dispostos era quase impalpável. As mesas eram de madeira e cobertas com o mesmo tecido salmão presente na cortina da porta assim como adornava longa e volumosamente as janelas encimado por uma toalha de renda branca. Candelabros de três braços, dourados e magistralmente bordados por filigranas se faziam notar seguindo intervalos regulares. Entre uma e outra dessas luminárias, destacavam-se arranjos baixos e cheios de tenras rosas cujo aroma e cor as faziam parecer pequeninos pêssegos.

     Os músicos estavam tão inspirados quanto o salão estava iluminado... Um regalo de poesia, envolvimento, romances. Conversas viraram danças e as taças brilharam e cantaram brindes. Assim, as horas seguintes partiram leves e eternas. Porém, o Sol muito além das janelas e ainda um tanto avançado nas distâncias do horizonte se revelava o suficiente para lembrar que o novo dia sobre a terra clamava pela atividade daqueles artesãos para de fato começar.

     E foi quando a primeira de suas flechas de calor alcançou a torre mais alta do edifício, que, pouco a pouco, os ali presentes começaram a se despedir do festejo. Dessa forma, também Leonardo e seus acompanhantes resolveram dar as costas aos portais do palácio e, de braços dados e risos unidos caminharam pelas ruas úmidas de orvalho, rumo às suas casas. Eram acompanhados pelo aroma da relva que delimitava as construções e sobrevivia aos calçamentos e também pelos olhares inocentes dos pequenos pássaros matutinos.

     O grupo de amigos ia ficando reduzido ao longo daquela alegre peregrinação. De tempos em tempos uma diferente porta surgia e um de seus membros após trocar beijos, abraços e palavras de ânimo com seus pares se lançava ao seu interior. Ao quase final do trajeto estavam diante da residência da artesã, Leonardo, Meredite e Tamara. O artista ao oferecer seus votos de até breve à mais recente fada reconhecida pela vila, falou:

     - Meredite, sei o quanto você é comprometida com sua arte e energia. E te conheço o suficiente para entender o quanto você deseja me oferecer um amuleto ainda hoje. No entanto, tenho um pedido sincero para te fazer. Não se ofenda, por favor. Não quero interferir em sua visão, seus métodos... Mas, me entregue a jóia somente no dia do meu casamento... Quando você chegar ao local da celebração. O que me diz?

     - Não está me insultando, Léo. Pelo contrário! Fico honrada em contar com sua confiança para te presentear em um dia tão significativo.

     Todos trocaram cumprimentos repletos de afeto e a artesã acessou o conforto de sua morada enquanto o pintor acompanhou Tamara até o lar da vendedora. Os passos desses dois testemunharam de suas palavras uma confidência, um apelo e um juramento.


Janeiro de 2021

Ana Luiza Lettiere Corrêa (Ana Lettiere)


Com Patrícia Lettiere ( http://pintandonopedaco.blogspot.com.br ), Paulo Renato Lettiere Corrêa ( http://osabordamente.blogspot.com.br ) e todos os meus inspiradores.


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