O ambiente exibia o auge de sua florada. As folhas e pétalas se mostravam resplandecentes. Os delicados caules estavam vivazes e flexíveis, e sua altura parecia ter sido cuidadosamente combinada para a finalidade da celebração... Formava um tapete uniforme que permitia que os convidados, mesmo quando sentados nas pequenas almofadas que estavam postadas diretamente sobre o chão cercando os véus colocados também de forma direta sobre o solo à moda "toalha de piquenique", conseguissem acompanhar a cerimônia e interagir com os outros presentes na festa.
Cada véu
reservava a companhia de oito almofadas e ficava diante de um pequeno
caramanchão que tinha sido construído especialmente para o casamento e se
encontrava completamente ornamentado com flores. Sob esse espaço havia somente
uma pequena mesa coberta com uma cintilante e branca toalha de renda encimada
por uma jarra e uma taça de prata, além de um singelo buquê confeccionado com
flores locais adicionado um em cada canto da mesa. Cada ramalhete tinha uma
determinada flor. Cada flor com uma cor. Cada cor representando uma fase do
ano...Vermelha, verão. Rosa, primavera. Amarela, outono. Azul, inverno.
Diante
dessa espécie de altar estava posicionado, no lado dedicado à noiva, um
cavalete coberto com cetim verde e um trabalhado tule branco.
Ao lado
dessa construção, uma única e longa mesa presenteada com uma coberta de veludo
branco acompanhado de organza rosa se mostrava completamente guarnecida de
variados recipientes que disponibilizavam inúmeras iguarias. Todo o conjunto
era constituído em refinada porcelana com tema florestal e pastel, assim como
os pratos também ali oferecidos para que os convivas fossem servidos no momento
da confraternização. Ali também estavam as taças de cristal e talheres de
prata.
Por mais
que a mesa já mostrasse delícias em grande número, um outro recinto
recentemente erguido um pouco distante do caramanchão era reservado aos
ajudantes na arte de fazer e servir os quitutes, e, a julgar pelo perfume das
maravilhas que liberava, deixava evidente que as surpresas gastronômicas podiam
ser aguardadas em profusão.
Leonardo
guiou todos até bem perto do altar e então pediu que sentassem nas almofadas. O
que foi seguido pelos presentes com prontidão... Estavam encantados com a
locação. Todo capricho, cada detalhe, era coisa de sonho... Eles viam, sentiam,
e gesticulavam, e falavam uns com os outros, com emoção e alegria. O artista
estava realizado com a situação, assumiu seu lugar ao lado do cavalete, de
frente para todos, em seguida, o homem e a mulher mais honrados e idosos e o
menino e a menina mais jovens e criativos da vila se posicionaram atrás da mesa
da celebração, bem próximos ao pintor, que sorriu e falou:
- Pronto,
amigos! Agora só precisamos esperar que todos os convidados cheguem!
Dois
quartos de hora passaram a exemplo de dois pontos de luz própria que cruzaram o
céu sobre as cabeças que ali se encontravam. O tempo não foi percebido, como
aquelas estrelas não foram vistas, tão ansiosos estavam os corações e beijado
pela onipotência do Sol o horizonte se fazia. Mas o tempo e aquelas luzes
seguiam todos o mesmo destino e traziam bons dias para o reino.
Uma hora de
aguardo se fez e uma meia dúzia de vezes durante esse período, Leonardo fôra
perguntado discretamente por alguns dos aldeões se a cerimônia ia demorar para
ter início, situação que ele sempre contornava com uma resposta gentil e até
mesmo humorada. Porém, em seu íntimo, ele sabia que seus planos dependiam
também de uma pessoa para ter pleno sucesso. Ele estava ali, parado, mas seus
pensamentos iam a todo instante até Meredite. Ela era sua amiga, precisava
estar lá, e ele temia que a fortaleza dela ocultasse uma fragilidade que
poderia eclodir na hora errada.
Ela reagira
bem quando ele insinuara amar outra. Mas ele sabia que ela tinha sentimentos
puros e românticos por ele, coisa que poderia fazer ela não desejar ver
pessoalmente seu enlace com outra mulher. No entanto, ele confiava na
maturidade dela, tinha para si a certeza de que ela cumpriria sua promessa de
comparecer ao evento.
Foi isso
que aconteceu. Quando Tamara e a artesã surgiram numa das bordas do campo, como
se obedecendo um comando da existência, todos, sem exceção, souberam o que
fazer, intuíram que a chegada de Meredite tinha algo muito profundo. Os aldeões
silenciaram e os músicos começaram a executar uma melodia suave. As amigas
seguiram juntas até um certo ponto. Foi então que a vendedora sutilmente ao se
ver perto de uma almofada, deu um passo para o lado e se sentou. Meredite sabia
que precisava fazer sua parte na cerimônia, então continuou caminhando de forma
harmônica aos acordes. Ao se aproximar do caramanchão, viu Leonardo dar três
passos em sua direção e recebê-la com um beijo na testa.
Ela sorriu
e lhe entregou uma pequena caixa dourada... Ele a recebeu e colocou sobre o altar,
ao lado da taça. Em seguida, pegou outra caixa dourada que estava em seu colete
e depositou ao lado da primeira, sobre a mesa. Feito isso, lançou uma piscadela
para a artesã, segurou despretensiosamente uma das mãos da amiga e se voltou na
direção de todos, conduzindo Meredite a fazer o mesmo. O aroma refrescante
daquele ambiente livre compunha delicioso soneto em união com as ondas
perfumadas dos chocolates e flores.
- Tudo
perfeito! Podemos começar! Primeiro, temos algo para o nosso príncipe... Por
favor, Alteza, se aproxime! - Leonardo estava com o espírito realmente festivo.
O soberano
com uma postura fraterna, simpática por natureza e aguçada por conta daquela
ocasião, fez o que o pintor solicitou, sem conseguir evitar porém um pouco da
perplexidade causada pelo chamado do amigo. Tão logo o líder a modo de Meredite
e Leonardo se voltou para a comunidade, uma camponesa e um camponês, saídos do
lado oposto do caramanchão, se aproximaram do príncipe, um seguido do outro,
parando ambos próximos a Eduardo. O camponês trazia em suas mãos a coroa real,
repleta de rubis, destinada ao nobre por força de sua linhagem sanguínea. E
carregado pela camponesa um tradicional arranjo silvestre, uma espécie de coroa
confeccionada especialmente para também adornar o soberano. O pintor continuou:
- Príncipe
Eduardo... Aceita a partir de agora ser Rei desses castelos e terras e lutar
contra todo tipo de tirania e ataques contra esse nosso lar?
- Aceito e
juro, esteja essa minha mão sobre o fogo ou esse coração diante de uma espada,
que assim será. Defenderei a todos, empenhando minha própria vida. - respondeu
mostrando-se firme e digno, mantendo a mão direita sobre o seu peito. Em
seguida se ajoelhou, e, o camponês postou-se às suas costas erguendo ao máximo
seus braços sustendo a coroa e depois lentamente a conduziu até repousá-la na
cabeça do soberano, que nesse momento fechou seus olhos e pareceu concentrar-se
em um tipo de prece. Foi então que o camponês se afastou discretamente, cedendo
seu lugar à camponesa. A moça assumiu a palavra:
- Rei
Eduardo... Oferece a nós, seu povo, a certeza de que será um exemplo de luz, de
paz, gratidão e conforto para todos os corações que te elegem voluntariamente
como patrono, zelando pelas nossas artes, ofícios e esperanças?
A voz da
camponesa era doce mas com um quê incisivo que não perturbava o regente, ao
contrário, ele a respeitava, admirou o jeito com que ela se apresentava. Tal
sensação criou na alma de Eduardo a urgência de ser realmente merecedor daquela
nova coroa. Emocionado, ele disse, esbanjando dignidade:
- Sou
vosso! Estarei morto antes que lhes falte a esperança. Enquanto meus olhos
brilharem sob o céu, os ampararei. Todas as nossas gerações serão belas e
prósperas em tudo que se propuserem!
A jovem,
sorrindo, repetiu o gesto do rapaz que a antecedera na cerimônia, ergueu a
coroa que estava consigo e a seguir a desceu, depositando sobre a coroa de
rubis. As duas peças se encaixaram perfeitamente, formando uma magnífica
construção. Os dois camponeses silenciosamente se retiraram do caramanchão e o
rei se levantou recebendo os aplausos e vivas de todos que contemplaram a
coroação. Will falou:
- A
comemoração está linda! Mas... E o casamento? E a noiva? Está faltando gente
fundamental!
Janeiro de 2021
Ana Luiza Lettiere Corrêa (Ana Lettiere)
Com Patrícia Lettiere ( http://pintandonopedaco.blogspot.com.br ), Paulo Renato Lettiere Corrêa ( http://osabordamente.blogspot.com.br ) e todos os meus
inspiradores.
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