domingo, 19 de maio de 2013

A cidade e o Poeta do Violino


Postado originalmente em 17 de Setembro de 2009 no site Autores.com.br.

http://www.autores.com.br/publicacoes-artigos/177-relacionamento/homenagem/22848-a-cidade-e-o-poeta-do-violino

À cidade

Acorde exuberante e pobre cidade, volte seus olhos a tudo que realmente importa, antes que seja tarde demais! Não desprezo, ao contrário, venero seus amplos teatros, onde o esplendor habita os fartos e reluzentes palcos, lustres, cortinas, camarotes e abóbadas douradas. Quero que vivam para sempre, pois são também provas da eternidade e encantamento da arte, personificação de sonhos afinal foram construídos para e por almas de artistas.

Não esqueça porém jamais, quem inspira quem! Teatros e museus, só são construídos porque existem artistas, gênios que muitas vezes começam na simplicidade! A arte não precisa de ouro e luxo, ela tem o poder de criá-los. Sábios serão sempre sábios, não importa se num castelo ou numa choupana!
Rogo, por você mesma, não repita o erro dos que escarneceram, por exemplo, de Beethoven! Hoje ele ainda é Beethoven... Quem foram os outros, os intrigantes? Todos idolatram suas sinfonias... Onde ficaram as risadas irônicas?

Não perca seu tempo e sua alma, atirando moedas para os artistas do presente, achando que com isso é superior e que tem o direito de lhes dirigir palavras ridículas e más, elas com certeza nunca destruirão um artista e lá na frente, o destino se encarregará de lhe devolver com a mesma “presteza”. O mundo gira e a Arte tem a bela mania de ser protetora de seus filhos, não perdoa seus agressores. Num futuro não muito distante sua consciência revelará quem realmente é digno de pena. Dica: Não são os artistas!

Não pense, cidade, que a odeio! Meu alerta é justamente por amor. Quero que no futuro seja lembrada pelo Bem que existe e que sei que pode evoluir infinitamente em seu âmago para que a História lhe preste homenagens com o devido louvor e reverência.


Ao Poeta do Violino: Marco Antônio

Seus sublimes acordes desfilam acima do cinza da cidade, calam-se as buzinas, os gritos, a dor. Agora é seu reino que se aproxima através de leves e hipnotizantes notas de violino. É na direção da origem dessa magia que caminho, olho cada rua, todas tão iguais... Então te encontro, sorte! A admiração percorre minha alma, estou diante de um solo que nunca está só. Paro, me abrigo sob sua luz, de artista, espírito gentil, ao seu redor vejo todos os mestres da música, sentados aos seus pés, te contemplando e sorrindo, pois reconhecem em seus olhos o mesmo brilho que acompanha a estrela de todo artista, e que guiou suas vidas, esperança na vida e na arte, perfeita harmonia como nos antigos saraus, todos guardados sob as asas da Mãe Inspiração, que como nas divinas pinturas de época exibe sua glória orgulhosa, vitória interior e digna eternidade.

Aqui ao teu lado a honra já não é apenas um valor perdido no tempo, cultivado pelos poetas utópicos, é real, verdadeira. Esse tesouro é cotidianamente exposto a todos, oferecido por sua generosidade de gênio, porém só é reconhecido pelos portadores da luz. Fui agraciada por conhecê-lo, inabalável guerreiro da arte. Ilustre violinista, é com máxima felicidade que lhe dedico esta homenagem. Amigo, não me foi concedido o poder de tornar reis, como merecem, homens com a tua imortal nobreza, nem tenho o Dom de presenteá-lo com asas para que mais rápido possa abandonar os ignorantes e procurar novas terras, moradas de mestres, seus iguais. Tenho somente palavras (e elas são meu tudo), que agora te ofereço, para que sua existência e memória sejam exaltadas.

Então vem, amigo! Descubra esse mundo que também é seu, se lance sem medo neste Universo conquistado por seu Dom. A você, nunca mais anonimato e humilhação. Agora junto aos bons, é chegada a hora dos merecidos e inesgotáveis aplausos que te seguirão por toda eternidade.

*Marco Antônio é violinista e sinceramente, talentosíssimo. Seu palco são as ruas de Juiz de Fora, MG. A primeira vez que minha família e eu tivemos a honra de prestigiar o excelente trabalho dele foi em 2002. Temos o hábito de visitar esta cidade todos os anos na época do Festival Internacional de Música Colonial Brasileira e Música Antiga, evento espetacular, por sinal. E entre indas e vindas de teatros, imensa é a nossa alegria quando em meio ao burburinho da cidade, ouvimos seus acordes. Já virou tradição, tristes são as vezes que não o encontramos em nossos passeios, já que ele sempre se apresenta em vários lugares da cidade, nunca sabemos exatamente em qual. Consideramos um presente quando nossos caminhos se cruzam.

Se um dia, você, leitor estiver nesta cidade e encontrá-lo, saiba, tem motivos de sobra para sentir-se honrado.

Com certeza, um amigo na Arte, capaz de dedicar ternamente suas notas a quem estiver disposto a apreciar, sua música combate qualquer sombra ou sentimento pesado, elevando seu público às mais doces esferas astrais.

Para um coração tão leve e cativante assim, só me resta dizer: Muito obrigada!!!

Obs: 
Não é só pose no retrato não!

Ele fez questão de executar magnificamente o Hino Nacional Brasileiro todinho, até durante a sessão de fotos!

* Imagem: Acervo pessoal. Marco Antônio permitiu que eu efetuasse essa foto dele exercendo sua arte.

Ana Lettiere

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