quinta-feira, 1 de novembro de 2018
A Folha e a Floresta
Ela, a folha, começou como todas iniciam... Verde. Desde sempre quis ser bonita como ela... A potência máxima das Virtudes do Ar, a Gloriosa Deusa Amazônia! Crescia ao banho do Sol, dos Sonhos... Seguia os conselhos profundos da Terra.
Quando se pensava pronta para desfalecer, as chuvas chegavam, e, revigorava-se, aprendia... Ela as sentia como cachoeiras a responder-lhe. Eram um sinal, um convite que os ventos confirmavam em suas promessas, quando, de passagem por aquelas cercanias, poetisavam em silvos.
Fogos de fúria vinham e partiam, mas o Outono, foi quem sutilmente soou o gongo... Iniciando sua escrita em novas páginas, deixando partir as folhas secas. E foi assim que ela plainou... E ao chegar ao fim dessa sua curta viagem, conheceu o real sabor do solo. Olhou uma última vez para o alto e teve a sensação de que havia cumprido bem sua missão enquanto fora parte daquela bela árvore... Com certeza nunca tinha reparado exatamente como era alta... Uma majestade, sobrevivente!
Simultaneamente, ficou feliz ao ver quantas viçosas novas irmãs suas já despontavam, jogando seus primeiros beijos em direção ao Astro Rei... Grandes ideais já eram anunciados por aquelas recentes princesas. Se despediu e descobriu como se mover, mapear as brisas e colinas, reconhecer os turbilhões...
Demorou a desvendar o contornar das pedras... Ela vinha inebriada por suas adoradas ventanias e era tragada pela peneira de rochas. Mas o chamado do Coração dos Universos estava cada vez mais forte e ela nunca desistiria de ir ao seu encontro... Sabia que algumas lacerações eram irreversíveis, mas precisava tentar se cumprir. Sua caminhada era inconstante, mas, agora, tão depois de seu início, se sentia tão perto...
Seria criminoso parar... Precisava tentar... Saber se no mosaico divino que habitava suas intuições, haveria de fato um espaço para si... O abraço daquele lugar que ela reconhecia como o mais próximo do Céu que era capaz de imaginar. O tal, que era seu refúgio, a certeza que animava-lhe quando precisava atravessar reinos inexatos... Mesmo quando seus pesadelos zombavam dela, em instantes que pareciam preceder o fim, gritando "Os Anjos do seu Paraíso não te querem com eles! Você nunca alcançará seu destino!"...
Porém ela acordava, pensando "Chegarei! Mesmo que no voo silencioso, em pedaços, cinzas ou memória!"... E, um dia, chegou... Ela não passava, então, de uma castigada renda. Tinha ficado mais suja e leve a cada curva das estradas, a cada abismo... No entanto, quando estava concluindo sua trajetória, já era capaz de acompanhar as altas velocidades das tempestades... Até finalmente aterrissar, maciamente, sobre inúmeras camadas de outras folhas... E realizou livremente o que mais gostava de fazer, respirou... O ar que sempre venerara, mesmo sem tê-lo recebido antes. Um amor ancestral!
Mesmo honrada, sabia que precisava aproveitar cada segundo. Sua despedida fatal daquela dimensão talvez não estivesse longe. Dirigiu seus mais sinceros pensamentos à rede de belas copas que pareciam guardá-la... Grata estava. Sabia que nunca fora precioso fruto ou encantada flor... Mas foi então que percebeu, que além de folha, era semente!
01/11/2018
Ana Lettiere (Ana Luiza Lettiere Corrêa)
Com:
Patrícia Lettiere
http://pintandonopedaco.blogspot.com.br
*Imagem montada com desenhos do App Rascunhar.
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