quarta-feira, 8 de agosto de 2018
Infância Fraterna: Encrencas e Alegrias
Na infância, rusguinhas entre manas são um tanto frequentes. E, tratando diretamente do meu relacionamento com a Tritri, de vez em quando, os motivos mais banais já faziam eclodir atritos. Outras vezes, a gente bancava as precoces, em acirradas desavenças por política... Tudo porque o meu candidato era adversário do dela, e nós, as duas pirralhas, os defendíamos pra valer! Bem... Hoje já posso confessar... Paty é que estava certa! E as maneiras de resolver as diferenças eram por vezes as mais inusitadas, por exemplo: Paty tinha um jeito peculiar de me combater... Me dando vassouradas! Ela, pequenininha, vinha segurando a vassoura pelo cabo, correndo meio desequilibrando... Vez por outra, também fazia uso de sandálias Havaianas para me bater! E eu não podia revidar! Por ser a irmã mais velha, tinha que me controlar!
Mas, depois de um tempo que a gente tinha feito as pazes, eu pegava um tomate-cereja na plantação da nossa casa, lavava, deixava meio úmido, o enrolava em um monte de açúcar refinado e entregava à ela dizendo que era um doce... Rsrsrs, ela caiu nessa armadilha inúmeras vezes! E fazia um monte de caretas quando percebia que, na verdade, não era uma guloseima... Era vingancinha na época... Mas, hoje em dia, acredito que ela pode até mesmo me agradecer... É coisa fit, chique, de baixa caloria!
A única televisão da casa também era motivo de disputas quando nenhum adulto estava aproveitando suas atrações. Nos dias úteis, a encrenca entre eu e minha mana, por esse motivo, acontecia quase sempre por volta do meio-dia e meia, que era o horário em que eu chegava da escola e ela estava se preparando para ir para o colégio dela, rsrsrs. Nesse meio-tempo, ela queria que eu brincasse com ela, mas eu pretendia assistir meus programas preferidos (Agora, escrevendo essa matéria, estou me sentindo uma ogra! Paty só queria brincar comigo, o que significa que desde então já gostava da minha companhia. E eu brigando com ela! Desculpa, Tritri!) ! Então, eu ligava a TV e ela desligava! Repetíamos esse processo uma centena de vezes. Vale salientar que nosso aparelho na época não contava com controle remoto. Era daquele tipo que, para ligar, a gente puxa um botão, e para trocar de canal, a gente tem que ficar girando o mesmo botão. Estou revelando isso para que vocês tenham a exata percepção dos danos que esse nosso ato acarretava à coitada da TV!
Essa sofrência ficava ainda mais conflituosa quando a gente tinha todo o tempo do mundo para desfrutar da presença uma da outra e da TV. Por exemplo, eu era público fiel do Cine Trash, e Paty não curtia tanto como eu. Às vezes ela ficava mais incomodada do que o habitual, o que era somado com a vontade que ela tinha de ver desenhos animados que, para minha desgraça, eram exibidos no mesmo horário dos filmes que eu planejava ver. Então, quando nossa disputa verbal não convencia nenhuma de nós a assistir junto ou pelo menos deixar a outra assistir o que a interessava... A gente "partia para a ignorância" (Nossa! Que sensação estranha, escrever e ler essas coisas sobre minha vida! Já estou começando a acreditar que eu não presto, rsrsrsrs!) , corria até a TV (Acho que a televisão devia chorar por dentro nessas horas, vendo a gente indo na direção dela! Pois já sabia a sessão de tortura que ia precisar enfrentar!) e... A primeira que chegava segurava o botão, e, a segunda, segurava o botão também, tentando vencer a mão da primeira! Ele não parava de rodar, fazendo uma barulhada daquelas... Crácrácrácrácrá!
Mas, chegou o dia em que, durante essa loucura, algo aconteceu e mudou nossa atitude para sempre quanto a isso! Nessa "rodagem" prolongada do tal botão, ele se soltou! E a gente não soube colocar de volta! Então nos entreolhamos, em acordo silencioso deixamos o botão em cima da TV e saímos quietinhas para brincar em paz no quintal... Assim, como se nada houvesse acontecido! Ao final da tarde, levamos uma bronca daquelas! Tivemos sorte, pois acabamos descobrindo que o botão só tinha se desencaixado! Mas daquele dia em diante, nunca mais disputamos poder através da TV!
Por conta de ocorrências assim, é que eu e Paty não acreditávamos se algum adulto afirmava que, quando a gente crescesse mais um pouco, nos tornaríamos as melhores amigas, inseparáveis defensoras uma da outra! Mas vejam só... Aconteceu mesmo! Somos unidas para enfrentar perigos até quando estamos desacordadas! Vou explicar... Certa vez, ambas estávamos dormindo e lembro que eu estava tendo um pesadelo, quando, de repente, a Paty me acordou, o que me possibilitou escapar da situação! Ela disse que eu estava falando meio alto, o que a fez despertar. Então, eu revelei o porquê do meu comportamento, e ela, surpreendentemente, me disse que também estava tendo um "sonho" turbulento, e que só acordou quando me ouviu falando sozinha! Ou seja, livramos uma à outra de um momento desagradável, mesmo sem saber o que se passava!
A nossa vida fraternal não era feita só de guerrinhas... Também formávamos uma bela dupla para brincar! Íamos treinar andar de bike na praça da principal igreja da cidade. Tal espaço estava longe de ser o mais adequado para isso, não contava com retões e era apinhado de canteiros um tanto altos onde ficavam palmeiras... Então, tínhamos que ter juízo, nos aperfeiçoar na execução das curvas. Eu não apreciava isso! Quando tinha que contornar os canteiros, fazia de forma tão devagar, que certa vez até caí em cima de um deles em câmera lenta!
Perfeito era aos domingos! Quando a rua que ia em direção ao Banco, longa e só com alguns quebra-molas, ficava super deserta e proporcionava acelerar a bike ao máximo! Agora vocês entendem ainda mais porque acho triste o filme "Cidade dos Anjos" ... É isso aí! Digamos que eu tenho essa mania em comum com a protagonista... Voar de bike! Era interessante e mais seguro praticar com a bike na praça da biblioteca. O problema, é que ela ficava um tanto distante da minha casa, e aí nem sempre era prático ir lá!
E aviso para quem estiver me considerando a doida da bike... Você ainda não está sabendo quem da minha família foi que aprontou feio sobre duas rodas! Adivinhe! Ela mesma! A Tritri! Um dia, resolveu descer uma ladeira bem íngreme, a rua era de terra e repleta de pedras soltas. Estava tudo tranquilo, quando, de repente, ela começou a ganhar velocidade e oscilar, pois a bike estava derrapando! Por estar nervosa, ela não conseguia parar, ficava chorando e gritando: "Gente, freia para mim!" . E para nosso desespero, lá embaixo, ao final da descida, tinha um muro!
Nosso pai, que também estava de bike, para evitar uma colisão terrível, emparelhou com ela e se jogou com bike e tudo ao seu encontro. Os dois caíram em um matagal que ficava às margens da rua. Em meio a isso, uma moça se aproximou, em pânico com a cena, enquanto o cachorrinho dela, um Poodle, se colocou a latir sem parar e tentou atacá-los! Pelo menos não sofreram nenhum dano físico grave... Só alguns esfolados feinhos! Mas, criança que não "beijou" o chão de vez em quando, não pertenceu aos anos 80/90!
Aliás, muitas crianças de hoje em dia são nota mil se comparadas com algumas da minha geração! Dia desses, vi uma menininha de uns quatro anos com uma atitude encantadora... Paty e eu estávamos em frente à vitrine de uma loja de brinquedos, quando ela chegou acompanhada por sua mãe... Ficou olhando uma LOL por uns minutos e sussurrou para ela: "Já viu, mãe? É essa que as minhas amigas tem! Compra uma?" e a mãe explicou com calma: "Outro dia, filha. Lembra que eu te falei que hoje a gente só ia ver coisa séria?" , a menina então assentiu e seguiu seu caminho serenamente! Uau! Um anjo! Sinceramente, vejo nisso um exemplo de maturidade! Ainda mais com o apelo que essa boneca exerce não somente sobre as crianças... Todo mundo considera elas fofinhas... Talvez por seu jeito vintage!
Eu, por exemplo, já fiz a Paty me prometer que qualquer dia desses me presenteará com uma delas. Considero interessante essa proposta de não ter como escolher exatamente o modelo da bonequinha. Fico imaginando qual será a minha! Todas são fabulosas! Mas confesso que uma é a minha preferida... A que parece com Audrey Hepburn! Amo cinema e sou fã dessa atriz! E, por isso mesmo, sei que deve ser uma das mais difíceis de se encontrar entre os tantos tipos de LOL disponíveis.
Porém, é preciso voltar ao assunto... Paty e eu, em compensação, quando pequenininhas já chegamos a cair chorando na poeira dos pisos das lojas por causa de brinquedos bem mais sem graça, rsrs. Atitude vergonhosa, eu sei! E um desses ataques, no caso da Paty, foi por algo, a meu ver, extremamente inexpressivo... Cuja beleza e utilidade só ela devia reconhecer na época... Um pequenino robô de plástico prateado, que não mexia braços nem pernas e parecia pintado com uma tinta de baixa qualidade!
Seguindo mais um pouco em meu relato sobre o dia a dia em uma cidade pequena... Lá tínhamos eventos maiores, sim, mas eram poucos... E ocorriam prioritariamente ao ar livre, exemplificando... Aniversário da cidade, chegada de parque de diversões (Uau! Eu adorava aquele disco gigante em que as pessoas ficavam sentadas enquanto ele girava ao som de hits! De vez em quando, um "passageiro" mais ousado arriscava sair da borda do brinquedo, ir até o centro do disco correndo e fazer coreografias!) , festejos carnavalescos e festa junina... Essa também era muito boa! Dava uma vontade irresistível de deixar um pouquinho da mesada em cada barraquinha de quitutes! Sem falar nas brincadeiras! Amo Pescaria! Era rainha em matéria de ganhar kits de maquiagem infantil! Ah, e se uma das barraquinhas estivesse momentaneamente abandonada, rapidamente era invadida por minha gang, rsrsrs! A criançada ia chegando com seus brinquedos, às vezes com animais de estimação e ia se reunindo ali... Até lanche a gente compartilhava! Mas não se preocupem... A gente desocupava prontamente quando o real dono do espaço chegava!
Em uma ou outra dessas festas se providenciava um pula-pula (Aquele totalmente fechado, inflável) ... Eu achava o máximo (Ainda adoro! Mas, além de hoje em dia ser um tanto raro encontrar um assim, acredito que ficaria complicado para a minha pessoa poder brincar, pois provavelmente é voltado somente ao público infantil) ! Durante uma festa, entrei com minha irmã num desses pula-pulas, como sempre, sob a orientação do meu pai de que, por eu ser a irmã mais velha, devia cuidar dela com muita responsabilidade... E a bem da verdade, apesar das nossas briguinhas de irmãs, sempre gostei de contar com ela a meu lado, para brincar então... Mais ainda!
Dessa vez, a coisa foi ainda mais descontrolada do que já é a realidade de um pula-pula... Primeiro: O brinquedo estava praticamente lotado... Segundo: As crianças não estavam somente saltando, algumas estavam brincando de caratê, capoeira... E... Terceiro: Tive a que, para mim, foi a visão mais assustadora... Paty se afastou e ficou caída no meio do pula-pula, cercada de gente que estava se arremessando em voadoras!
Conforme o pessoal quicava, ela era lançada para cima, e já estava começando a chorar, pedir para eu tirar ela dali... Então (Até hoje me sinto uma heroína por isso, rsrsrs) fiquei tão preocupada de vê-la naquela situação, que driblei minha vontade de ficar me jogando, atravessei o mar de pernas e braços que se projetava em meu caminho, levantei ela e saímos dali.
Ou seja, como podem notar, esses festejos eram ocasiões sempre muito aguardadas e que rendiam conversas por longo período! Porque realmente revolucionavam com alegria o cotidiano do povo! Assim era (Conforme a minha vivência!) grande parte dos anos 80/90 de raiz! Excelência, superação, no mundo, na arte... A Era que nunca vai desbotar... Pois segue, torna-se história e continua viva, sendo parte do coração da gente! Aprecio tanto esses tempos que nem sei se isso ocorre por eles pertencerem à minha infância e adolescência (Reza a Filosofia, que cada pessoa vai dizer que os anos que marcaram esses períodos de suas vidas, foram os melhores de todos os milênios!) ou se todas as pessoas que passaram por essa época concordam com essa visão de beleza!
Bons tempos, com certeza!... Ou, melhor ainda, Sublimes! Como também eram as brincadeiras com a turma da vizinhança, na rua em frente à nossa casa! Ficávamos ali até meia-noite... Alternando entre elástico, pique alto, estátua, adedanha, pique corrente... Rsrsrs, era tenso quando a "corrente" vinha cercando a gente, kkkk! E para finalizar, compartilho com vocês uma de nossas brincadeiras domésticas preferidas... Que era administrar nossa imaginária lojinha de doces por encomenda! Tudo lindo, organizado... Pelo menos era a nossa intenção!
Todo dia, após seu trabalho, a caminho de casa, nosso pai ia em um mercado, comprava alguns doces e trazia para presentear a gente! E aí a diversão ficava ainda mais especial, pois a gente inseria eles no contexto... A Paty "adquiria" minhas guloseimas e vice-versa!
O problema era quando deixávamos tudo nas mãos das nossas amigas, também imaginárias, Lidiane, Esmeralda e Sofia! Eram as atendentes da loja! Rsrsrs! Elas viviam cometendo errinhos nas vendas e por vezes implicavam umas com as outras. Choviam telefonemas de clientes insatisfeitas com as atitudes delas, que, por qualquer coisa, desacatavam as freguesas. O pior, era a ausência de comando que eu e a Paty tínhamos para com as meninas... Aprontavam de tudo e a gente ficava com pena de demitir! O prejuízo era grande, mas, por mais espantoso que pareça, nunca íamos à falência!
08/08/2018
Ana Luiza Lettiere Corrêa (Ana Lettiere)
Com:
Patrícia Lettiere
http://pintandonopedaco.blogspot.com.br
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