terça-feira, 7 de agosto de 2018

No Lar dos Inconfidentes



     Sempre quisemos conhecer Ouro Preto (MG) ... Uma cidade Linda, Receptiva, repleta de Natureza e... Histórica! Lugares assim, na minha opinião, não precisam ter mais nada! Nos emocionamos ao conhecer cada museu, igrejinha e rua! Estávamos no ninho dos Inconfidentes e realmente ali a gente sente ainda mais forte como os séculos estão interligados! Todo quadro, mesa, cadeira que eu via parecia ter uma revelação a me fazer. Nessas horas me sinto como naqueles livros do Dan Brown... Fico procurando códigos que permitam que eu me aprofunde ainda mais na atmosfera da época que está me inspirando!

     Ficamos por volta de uma semana nessa região e pra contar a verdade, parti com a sensação de que ainda existem inúmeros lugares a serem descobertos e contemplados! Tudo correu maravilhosamente bem, mas para não deixar de contar um episódio maluquinho que testemunhamos, aqui vai... Fomos conhecer uma das igrejas principais, tiramos fotos de seu interior, ouvimos os relatos de nosso guia de turismo, meditamos, saímos e começamos a eternizar o seu exterior em fotos. Até então, tudo estava na mais perfeita paz, até que ouvimos uma mulher que também estava ali fora gritar, começando a discutir com as pessoas que a acompanhavam... E dava para perceber a confusão virando eco dentro das paredes da igreja.

     Todo mundo que estava por ali parou e se afastou da senhora para não irritá-la ainda mais... Porém, como a curiosidade é grande, ficou nas cercanias do desabafo dela para tentar compreender o que se passava... Foi o seguinte:

     "Ela estava revoltada porque seus amigos ou família estavam tirando fotos dela, pedindo para ela fazer pose, ficar ao lado deles nas fotos... Dizia que não sabia fazer caras e bocas, que não tinha paciência para isso, que todo mundo era inconveniente... E que se quisessem fotos dela, que tirassem sem que ela percebesse!"

     Olha... Tudo bem que a pessoa tem o direito de não se sentir confortável para tirar fotos uma vez ou outra... Só não entendi o porquê dela explicar isso em altos brados! Calma, amiga!!!

     Ah, preciso compartilhar... Podem ter certeza, por mais que a gente acredite já conhecer bem a saga de uma localidade, um especialista sempre tem revelações extras para fazer, e a gente aprende muito mais! E de vez em quando a seguinte situação vem à tona... Não sei se já aconteceu isso com vocês em alguma de suas viagens... Vejam:

     Estávamos com nosso guia dentro dessa igreja citada no relato anterior, onde havia mais grupos de visitantes, que por sua vez estavam com seus próprios guias. Íamos circulando entre esculturas e pinturas ouvindo as informações... De vez em quando, um grupo passava pelo outro, vendo a mesma obra, e os guias falando... Só que, sobre alguns detalhes, eles contavam versões um tanto quanto divergentes e um grupo (Quem manda o ser humano ser tão curioso e prestar atenção no que o guia do outro grupo está falando? Não sei! Mas acontece! Não dá para evitar!) escuta o que o guia do outro está revelando... E fica aquela troca de olhares, riso contido e dúvida sobre qual será a versão que mais se aproxima da realidade!

     Ainda em Ouro Preto, resolvemos visitar uma de suas minas... Ao longo do caminho o guia ia nos contando vários acontecimentos de época, detalhes sobre o local, etc. E acrescentou que grande parte dos turistas que iam até ali sempre comentavam com ele que devia ser uma maravilha morar naquela cidade, repleta de subidas e descidas porque era fácil se manter em forma, ficar com as pernas bonitas... Então, às gargalhadas, ele disse para a gente que sempre respondia o seguinte:

     "Que nada! Com esse esforço todo, a gente chega em casa ao fim do dia com as pernas quebradas pela dor!"

     Sim, um cotidiano de esforço, enfrentando chuva ou Sol pode ser complicado... Nem todo dia a gente está tão forte quanto gostaria... Mas é inegável que a topografia da região concede um ar extremamente poético!

     Chegamos à mina, colocamos capacetes e fomos ao encontro da aventura... Realmente tudo dentro daquele espaço fechado, um tanto escuro e todo constituído de terra, é muito diferente, o ar, além de rarefeito, tem um perfume indescritível. Percebi como é, literalmente, ser envolvida pelo interior do planeta! Ao iluminar as paredes com a lanterna, a gente assimilava ainda melhor as diferentes camadas de materiais e cores que formam o corpo terrestre, marrons, amarelos, vermelhos, rosas... E lá ou cá, banhos de pigmentos dourados! Lindo! A natureza é uma Artista!

     Fomos o mais longe que conseguimos seguindo a trilha e o guia nos falou que se encontrássemos, poderíamos pegar alguma pedrinha (Modesta pelo ponto de vista comercial, mas valiosíssima para nós) que estivesse solta pelo chão... Nos empolgamos! Recolhemos algumas, saímos da mina, suados e cobertos de terra (Para acentuar o visual sujinho, eu fui com uma blusa branca... Qual a probabilidade de se entrar em contato com terra vestida com uma roupa como essa e a mesma permanecer limpa? Rsrsrs) . Passamos levemente as mãos e pedras (Pois estas estavam completamente envoltas em barro) na água disponível em um tanque e em seguida fomos para a lojinha anexa aonde eram comercializadas pedras (Essas, semi-preciosas) de vários tamanhos e cores, prontas para decoração ou disponibilizadas em pingentes, anéis, etc. Ficamos admirando as criações e segurando nossas pedras que ainda liberavam um pouco de terra molhada.

     Chegou ao local um casal de estrangeiros e pediu para a atendente abrir uma das vitrines destinadas aos anéis. A moça estava fascinada experimentando as jóias e as recolocando em seus expositores verticais... Mas de repente, ela olhou para nós três, especialmente para nossas mãos e se distraiu enquanto estava devolvendo alguns anéis aos seus lugares, esbarrando de mal jeito, fazendo a peça toda desequilibrar e cair com os mimos que estavam ali colocados... Foi cristal pipocando no chão por todos os lados... Chegava a dar agonia só de ver! Felizmente todos foram salvos e colocados novamente em seu espaço! Depois de um tempo, fomos embora dali e eu tive que comentar: "Gente... Eu acho que pela reação do casal vendo nossa sujeira, deve ter acreditado que a gente trabalhava na mina e estava levando as pedras ali para a loja confeccionar os adornos!"

     Em um outro dia, resolvemos fazer um passeio ida e volta de trem de Ouro Preto até Mariana... Viagem belíssima... Que paisagens grandiosas! Em alguns momentos o trem passa na beirinha de um precipício repleto de mata, a gente contempla todo aquele verde... E se apaixona pela queda d'água deslumbrante que surpreende nossas vistas e eterniza-se em nosso ser! Algo que nos ilumina com sua força diante do viver! Se fosse possível, seria fantástico sair do trem ali mesmo e pegar o rumo daquela torrente! Chegando em Mariana, fomos cativados pela cidade... Um recanto tão acolhedor, que nos inspirou a "batizar" com seu nome, a bonequinha "namoradeira" (Aquela que sempre podemos encontrar nas janelas das casas nas cidades mineiras) que "adotamos" lá e trouxemos para Petrópolis!

     Mas voltando a comentar sobre a cidade... É um verdadeiro fascínio... As ruas repletas de lojas vendendo lembrancinhas, e em cada uma que a gente entrava, não resistia e adquiria alguma coisa... Um bloquinho de anotações ali, um chaveirinho mais adiante. Para variar, ficamos tão absortos com a presença da História que emana ali, que de tão ansiosos que estávamos para tirar fotos junto aos marcos da região, tenho certeza de que deixamos uns meninos que vendiam pedrinhas e pingentes sem entender nada quando eles vieram perguntar se a gente queria anéis ou brincos... Paty e eu, meio dispersas, respondemos "Agora não, muito obrigada... A gente precisa ir para o pelourinho! Fica para a próxima!"

     Partimos da cidade, mas vejam como somos... Alguns dias se passaram e constatamos que ainda tínhamos algum recurso para aproveitar as férias e decidimos passear mais um pouco. Consideramos que, por Paty ser artista plástica, Congonhas, terra de Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho), criador de "Os Profetas", além de outros trabalhos, seria um destino interessante. Poderíamos admirar de perto as obras do artista! Nosso pai até comentou: "A gente é doido mesmo! Depois de já estar pertinho de lá, a gente vem para Petrópolis e resolve voltar!"

     Fomos, conhecemos e fizemos milhares de fotos! Durante todo o tempo, Paty não parava de tecer elogios ao artista e suas obras. Andava pelas ruas sem conseguir deixar de exaltar a energia e a inspiração de seu amigo! Existe um atrativo a mais para se contemplar obras de arte expostas assim, a céu aberto... A liberdade de poder se aproximar, tocar nas criações... É uma forma da gente entrar ainda mais em sintonia com o artista. E conhecendo a trajetória, os desafios desse Mestre, a gente vê que está diante de uma Obra de Vida!

     Na hora de partir da cidade, ficamos por duas horas à beira da estrada de terra esperando pelo ônibus que nos transportaria para Conselheiro Lafaiete. Por causa do cansaço ocasionado por nossas andanças, cada minuto parecia se arrastar. O ambiente estava meio deserto, como nossa companhia, apenas suor e os automóveis que passavam... Não vou me iludir, devíamos ser uma visão horrível para quem passava por ali, de tão castigados que estávamos pelo calor. Depois de muitos alarmes falsos, quando nosso ônibus apareceu e parou, entramos nele como quem agarra uma tábua de salvação! Me joguei na poltrona, respirei aliviada e abri bem a janela para ir pegando no rosto o ar fresco que a velocidade do ônibus fazia surgir!

     Quando estávamos nos aproximando de chegar à cidade, aproveitei para pegar um espelho em minha bolsa e conferir como estava a make e o cabelo. Fiz apenas uns retoques, pois achei que não me encontrava tão ruim quanto imaginei. Porém, olhando meu rosto me surpreendi por ter me bronzeado tanto! O Sol tinha sido forte naquele dia, mas nem foi tanto tempo assim que ficamos expostos à ele para que eu tenha ficado daquele jeito! Além de queimada, parecia que estava manchada, com um tom um tanto quanto irregular.

     Em Conselheiro Lafaiete descobrimos que só teríamos transporte para nosso próximo destino no dia seguinte... Compramos logo as passagens e procuramos uma pousada. Uma vez instalados, depois de decidir no zerinho ou um e par ou ímpar para ver quem seria o primeiro, segundo e terceiro a encontrar a paz revigorante de um bom banho... Fui contemplada com o primeiro lugar! Mal a água tocou meus cabelos, olhei para o ralo e já me sobressaltei... Estava um redemoinho cor de ferrugem!

     Procurei a água que saía do chuveiro, pois já estava me sentindo naqueles filmes de terror nos quais a água sai dessa maneira... Mas ela estava cristalina! Esfreguei meu rosto e a água veio imunda. Fui até o espelho e vi que minha pele estava ficando clara novamente. Voltei, lavei os braços e também saiu água suja... Era poeira que estava grudada em mim! A esperta que vos escreve passou um tempo enorme viajando em uma estrada de terra com a janela aberta! Que vergonha! Contei à Paty e papai para que eles não fossem surpreendidos como eu fui. Como para amenizar esse mico que pagamos, ao encontrar um refúgio para almoçar, saboreamos uma refrescante porção monstra de salada de palmito... Perfeita para esquecer, ou melhor, nem imaginar e muito menos descobrir a impressão que nossos rostos trabalhados no pó do caminho causou às pessoas que passaram por nós durante nossa caminhada da rodoviária até a pousada depois que chegamos à cidade!


07/08/2018

Ana Luiza Lettiere Corrêa (Ana Lettiere)

Com:

Patrícia Lettiere

http://pintandonopedaco.blogspot.com.br

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