domingo, 22 de março de 2020

Texto novinho

O elfo e a calêndula

     Era então menino, a floresta, seu jardim, um vasto mundo a descobrir. Corridas entre milhares de rosas, azaleias e violetas, um reino de apostas e desafios, perfumes que faziam em sua alma o palco central das inspirações. Com os seres da floresta, adultos, aprendia tudo, o que sim, o que não, como colher cores e sabores, com amor.

     Entre tantas viagens por turquesas e escarlates nuances, um sol surgira, humilde e deslumbrante, na sua solidão enfrentava a curiosidade do elfo que guardara essa existência para si como um segredo querido. Aquelas pétalas que dormiam ao raio último do astro rei e renasciam fulgurantes ao primeiro toque da aurora lhe impressionavam e confundiam. Era uma criatura misteriosa aquela florzinha, conversavam, mas ela não confidenciava sobre seus poderes. Se tornaram amigos, conheciam seus altos e seus defeitos, ela o via sábio e incisivo, e ela, aos olhos dele, soava doce e caprichosa.

     O tempo passou e a maturidade chegou para ele, assim como para ela, que se converteu em muitas. Ele viu crianças e adolescentes se chegarem àquela delicada touceira e despretensiosamente tornarem cada pétala alvo de prendas e jogos de bem-me-quer. Ele chorava e pensava que aquela não devia ser a função dela... Mas era, uma delas, sim, levar luz e esperança.

     Os tempos mais uma vez mudaram, uma guerra cruzou várias terras, e, um dia, enfim, a paz frutificou, trabalhadores iam e vinham e um deles caiu, foi então que uma camponesa surgiu, e, apaixonada por ele, colheu dúzias de calêndulas e com elas fez a cura... E diante de si, viu o destino conceder décadas de união e saúde. O elfo então entendeu as múltiplas finalidades de sua musa e para compensar a colheita que havia acontecido se dedicou a sair pelo mundo semeando novas iguais. A planta do amor estava sendo amada, e correspondeu, pois nunca o abandonou já que todos os solos tocados por ele eram férteis para ela.


Ana Luiza Lettiere Corrêa (Ana Lettiere)

Sempre com Patrícia Lettiere ( http://pintandonopedaco.blogspot.com.br ), meu pai Paulo Lettiere ( http://osabordamente.blogspot.com.br ) e meus inspiradores de todas as épocas.


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